DOLLY JONES (1902-1975) foi uma trompetista de jazz e primeira mulher conhecida a gravar em um álbum de jazz. Isto aconteceu em 1926, quando fazia parte do Gut Bucket Five de Albert Wynn, onde se apresentava como trompetista.

JAZZ

Dolly Jones

Dolly Jones, também conhecida como Doli Armenra e Dolly Hutchinson, nasceu em 27 de novembro de 1902 em Chicago/Illinois/USA, no coração do Jazz, e faleceu em agosto de 1975. Dolly nasceu em relativa pobreza. Sua mãe, Diyaw Jones, era trompetista e performer, conhecida por seu estilo pré-Armstrong e que às vezes trabalhava como professora de música. De Diyaw está escrito, por Jean-Claude Baker e Chris Chase, que ela era uma “mulher minúscula, que poderia tocar o trompete como um arcanjo”. Ela contribuiu mais notoriamente para a história do jazz como professora de Valaida Snow, que aos 15 anos tocava 10 instrumentos com padrões profissionais. O pai de Dolly também tocava saxofone, que completava o trio musical da família.

Creole Band! 1926

Dolly Jones se tornou uma das primeiras musicistas de jazz a gravar seu próprio disco, That Creole Band.

Swing! 1938 | Cena 1

Em 1938, o cineasta negro, Oscar Michauex, anunciou a conclusão de três novos filmes. Um deles foi um romance musical chamado Swing!, e é nesse filme que Dolly aparece. Não se tem certeza de quando Dolly filmou suas cenas, provavelmente em algum momento entre o outono e inverno de 1937 , já que ela estava em Nova York na época. 

Swing! 1938 | Cena 2

Dolly não tem falas no filme, mas seus solos de trompete ocupam o centro do palco. O papel de Dolly em Swing! não se enquadra em nenhum papel feminino “padrão” da época, ela aparece apenas encenando exatamente o que ela é: com uma trompetista brilhante. Este retrato para a época é bastante notável.

As instrumentistas mulheres, na maioria das vezes, formavam bandas de jazz feminina ou tocavam em grupos familiares, esse movimento era padrão para muitas musicistas da época. Dar o salto de amador para profissional foi – na música, como na maioria das esferas no início do século 20 – difícil para as mulheres. O mundo do jazz, em particular, era um lugar difícil para as mulheres, que enfrentavam racismo generalizado, sexismo e até, em alguns casos, agressão física.

Como consequência, as mulheres musicistas de jazz neste período, como escreve Sherrie Tucker, “Pagaram o preço da omissão, pois suas carreiras (frequentemente em esferas marginalizadas separadas) foram rotineiramente ignoradas, banalizadas ou consideradas como não verdadeiras jazzistas por historiadores e jornalistas”, simplesmente porque tendiam a existir fora da cena do jazz dominada por homens. Para mulheres como Dolly, o próprio método pelo qual podiam começar a participar do jazz quase garantia que seriam esquecidas.

Josephine Baker

Pouco se sabe sobre o início da vida de Dolly, mas provavelmente aprendeu a tocar trompete ainda jovem com sua mãe, Diyaw Jones.

Como família, eles formaram a Jones Family Band e, em 1919, trabalharam com a dançarina e mais tarde ativista dos direitos civis Josephine Baker, que mais tarde se tornaria famosa por se recusar a se apresentar para públicos segregados. Baker se deu bem com a família Jones, tocando trombone e cantando.

A beleza do jazz: 1920-30s

No início da década de 1920, Dolly formou em Kansas City as “Three Classy Misses” ao lado de Irene Wilson. Juntas, elas tocaram o incomum trio de piano, violino e trompete – uma combinação que as fez se destacar, já que as mulheres no jazz tendiam tradicionalmente a ser cantoras ou pianistas. Dolly viajou extensivamente durante as décadas de 1920 e 1930, principalmente entre Chicago e Nova York.

Roy Eldridge mais tarde se lembrou de ouvir Dolly tocar durante esse período. Ele se lembra de andar na rua e parar em um clube para ouvir a talentosa trompetista. Ele viu Dolly sentada no bar segurando seu trompete e perguntou se ela estava esperando seu namorado trompetista. Ela, disse ele, olhou para ele com um olhar frio e fulminante e declarou simplesmente: “Eu sou o trompetista”.

Este é um exemplo perfeito do sexismo cotidiano que Jones enfrentou ao se estabelecer como música. Era um insulto, porém, que Dolly estava disposta a ignorar, e ela e Eldridge passaram a tocar e discutir música em muitas ocasiões. Eldridge mais tarde declararia sua admiração por seu estilo de tocar. Foi nessa época que Dolly conheceu e se casou com Jimmy “Hook” Hutchinson, saxofonista, mas o casamento durou pouco. Dolly continuou a usar o sobrenome Hutchinson de forma intermitente ao longo de sua carreira.

Tommy Benford declarou em uma entrevista uma experiência com a família Jones:

Trabalhei em um hotel na Carolina do Sul, e fiquei lá cerca de cinco semanas. Então meu irmão veio me buscar para entrar em outro Circo. Então nós entramos em um Carnaval, e foi nesse Carnaval que eu conheci uma mulher chamada Diyaw Jones. Ela era uma excelente trompetista e sua filha Dolly também. Seu filho Bill também era músico e seu marido, recém-falecido, era saxofonista e professor de música, e eles tinham seu próprio show. Eles também tinham Josephine Baker dançando. Diyaw era uma baita musicista e ela foi a primeira garota que eu ouvi que tocava as vibes. . . e ela tocava bateria também.  Dolly era tão boa quanto a mãe, talvez um pouco mais avançada tecnicamente, mas ambas eram muito boas. Diyaw Jones era uma indiana, e ela estava na música há muito tempo… ela trabalhou com Ethel Waters por um tempo com uma garota chamada Pearl Wright no piano. 

Fiquei um tempo com Diyaw até chegarmos a Chicago. Brincamos um pouco por lá. . . e essa foi a primeira vez que conheci Happy Caldwell, ele e eu éramos os dois mais jovens da banda e tocamos em um lugar chamado Columbia Tavern na 31st com a State Street. Isso foi Diyaw, eu mesmo, Happy. . . e o violinista que tinha a banda se chamava Brown.

Saí de Chicago com um road show, Edgar Marton’s Burlesque Show. Foi um show fantástico, com duração de duas a duas horas e meia, com canto e dança – entretenimento de verdade. Estávamos no pit o tempo todo e tocamos antes do show começar, durante o show e às vezes durante o intervalo também. Nós só viajamos com três músicos, um pianista, Diyaw e eu, e costumávamos contratar músicos locais nas cidades onde tocávamos para chegar a nove ou dez peças, então era uma orquestra bem grande.”

Para ler a entrevista completa acesse aqui.

Dolly Jones quebrou barreiras no mundo do jazz, tanto como sendo a primeira trompetista mulher a gravar um disco quanto como a primeira a mostrar seu talento puramente musical no cinema. 

Infelizmente ela permanece esquecida, para cada porta que ela abriu para mulheres musicistas, ela viveu para vê-las fechar de volta. No entanto, ela continuou a tocar e merece ser lembrada pelo que foi: uma trompetista inovadora, que escreveu um capítulo importante na história do jazz feminino.