ON TAMING THE DEVIL'S TONGUE

A tradução para esta frase seria algo como “Dominando a diabólica língua“, este é o nome do método de trompete que Edna White escreveu em 1982.

Minha história com Edna iniciou em 2018 quando estava escrevendo um artigo para a faculdade e cruzei com o nome dela na biblioteca, lembro de ter lido Edna White (cornet), e ter pensado: “Edna parece ser uma nome de mulher”, então fui pesquisar e descobri que sim, Edna é uma mulher e foi uma trompetista virtuose! Descobri também que eu morava a apenas 10 minutos da cidade que ela estava vivendo os últimos anos da sua vida, eu morava em Sunderland e ela em Greenfield, em Massachusetts.

No ano seguinte, em 2019, fui convidada para tocar junto com a banda “A Natural Music School” e, em uma conversa com o diretor da banda, Steve Damon, comentei com ele sobre Edna, para minha surpresa ele disse que costumava frequentar a mesma igreja que ela quando era criança e pré-adolescente. Olha quanta coincidência! Fiquei impressionada com essa história e então ele me presenteou com o método “On Taming the devil’s tongue, pointers for today aspiring virtuoso” já que ele possuía algumas cópias. Edna vivia numa casa de idosos quando faleceu, seu único filho já havia falecido de câncer aos 53 anos em 1970, assim como seu único irmão, cunhada, pais e seus dois ex-maridos. Seus sobrinhos e sobrinha eram a única família que lhe restava ainda vivos.

Edna teve o suporte de sua família desde criança. Seu pai, Herbert J. White, era um cornetista amador. No seu aniversário de 7 anos, ele lhe deu um cornet e lhe ensinou a escala de dó. Ela rapidamente aprendeu a tocar todas as músicas que conhecia nesta tonalidade.

Foto publicitária do seu primeiro solo de cornet no Carnegie Hall, New York, USA em 3 de maior de 1901. Aos 9 anos de idade.

Fonte: https://archives.susanfleet.com/ednawhite.html

Sua estreia no Carnegie Hall foi sua primeira “gig”, ela recebeu $25. Rapidamente ganhou fama como criança prodígio. Aos 12 anos de idade Edna foi convidada para estudar na recém fundada Institute of Musical Art, agora Julliard School. Seu professor, Adolphe Dubois, primeiro trompete  da Filarmônica de NY, a fez trocar o cornet pelo trompete. Na sua formatura em 1907, Edna não recebeu diploma porque era muito jovem. Edna foi receber o seu merecido diploma somente em 1984,  quando um representante da Julliard concedeu-lhe um Diploma de Artista. Aos 92 anos!

Aos 21 anos Edna casou-se com Myron Chandler, um homem 20 anos mais velho que não aprovava sua carreira de trompetista. Com ele, Edna teve seu único filho, Douglas Chandler.

Nesta época, mulheres eram proibidas de participar de audições de bandas e orquestras, por isso muitas socorriam a carreira de solista e de vaudeville. Assim fez Edna. Edna fundou seu quarteto feminino de trompete chamado “The Edna White Trumpeters” onde viajou em turnê por diversas cidades dos EUA. Após o nascimento do seu filho em 1917, Edna fundou um novo grupo, desta vez um quarteto de metais. Foto abaixo da direita. 

Fotografia de Edna White Quartette (1926), da Edna White Collection (depósitos de 2013 e 2017), Caixa 6, Pasta 85 (CD de fotos)).

Formação em ~1918. Edna White e Julie Golden nos trompetes e Velma Howell e Ida Bisbee tocavam trombone.

Sua estreia no Carnegie Hall foi sua primeira “gig”, ela recebeu $25. Rapidamente ganhou fama como criança prodígio. Aos 12 anos de idade Edna foi convidada para estudar na recém fundada Institute of Musical Art, agora Julliard School. Seu professor, Adolphe Dubois, primeiro trompete  da Filarmônica de NY, a fez trocar o cornet pelo trompete. Na sua formatura em 1907, Edna não recebeu diploma porque era muito jovem. Edna foi receber o seu merecido diploma somente em 1984,  quando um representante da Julliard concedeu-lhe um Diploma de Artista. Aos 92 anos!

Aos 21 anos Edna casou-se com Myron Chandler, um homem 20 anos mais velho que não aprovava sua carreira de trompetista. Com ele, Edna teve seu único filho, Douglas Chandler.

Nesta época, mulheres eram proibidas de participar de audições de bandas e orquestras, por isso muitas socorriam a carreira de solista e de vaudeville. Assim fez Edna. Edna fundou seu quarteto feminino de trompete chamado “The Edna White Trumpeters” onde viajou em turnê por diversas cidades dos EUA. Após o nascimento do seu filho em 1917, Edna fundou um novo grupo, desta vez um quarteto de metais (foto acima, da direita). À esquerda, foto do quarteto de trompetes de Edna na formação de 1926. Ida Bisbee se tornou sua cunhada quando casou com o seu único irmão.

Entre 1920 Edna White gravou seu primeiro disco com a Edison Records, 1 música de Herbert Clarke, The Debutante.Continuou gravando até 1926 também com a Columbia Records.

DISCOGRAFIA de Edna White

EDISON Records: como trompetista solista

The Debutante (Herbert L. Clarke), e Re-coleções 1861-1865, 1920

Bluebells of Scotland (arr. J. Levy), 1921

When You and I Were Young, Maggie, (Butterfield), 1925

Then You’ll Remember Me (Balfe), e Sweet Genevieve (Tucker), 1926

Sempre Libre from Traviata (Verdi), 1926

With Torcom Bezazian: Forgotten, Edna on trumpet, vocal by Torcom, 1925

COLUMBIA Records:

Agnus Dei (Bizet) e Ave Maria (Gounod), 1921

International Marches, Edna White, trompete; Howard Kopp, xilofone, 1922

Carnival of Venice, Edna White, trompete; Henry Fuchs, piano, 1957 (gravação particular)

Suite for Solo Trumpet and Orchestra, (Edna White) Gaetan Berton, trompete solo, com a Maryland Theater Orchestra, 1981 (gravação particular)

Vídeo produzido pela pesquisadora Susan Fleet. Basicamente um resumo do livro biográfico de Edna White chamado “Women who dared”

Susan Fleet é uma pesquisadora, professora e trompetista que contribuiu imensamente para a divulgação da vida e obra de Edna White. Susan teve a sorte de passar uma tarde com Edna em Greenfield-MA, esse encontro único aconteceu 2 meses antes de Edna falecer, em 1992. Susan Fleet escreveu um livro chamado “Women who dared”, onde conta a história de duas musicistas, uma dela é Edna. O livro está disponível em E-book por apenas R$24,00. Super indico essa leitura. Susan também mantêm um website com diversos MP3 e outras informações disponíveis para download. Um dos pacotes disponíveis incluem a própria Edna falando de sua performance antes de cada música. É emocionante ouvir a voz da Edna White!

Acesse aqui para comprar os MP3s.

Quase tudo o que sei sobre Edna foi através da pesquisa feita por Susan Fleet. Para uma pesquisa mais profunda sobre Edna, por favor considere a compra do Ebook e também os Mp3. Isto vai te custar menos que R$60,00 reais.

Saiba mais sobre Edna White acessando o site de Susan Fleet aqui.

Edna White casou-se com seu segundo marido, o cantor de ópera radicado nos Estados Unidos Torcom Bezazian. Mas após uma visita à França com sua família, Torcom decidiu se continuar na França e continuar sua carreira longe dos EUA. Foi então que Edna tomou a difícil decisão de retornar sozinha para os Estados Unidos com o filho Douglas ao seu lado, também para dar continuidade na sua carreira solo.

Em 1949, Douglas Chandler organizou um concerto para Edna no Carnegie Hall, em Nova Iorque (foto de divulgação abaixo). Em 1957, já com 65 anos, Edna se despediu dos palcos com concerto que ela intitulou de “Farewell Recital” (Concerto de Despedida). Importante ressaltar que Edna White foi a primeira trompetista na história a se apresentar no Carnegie Hall. Algumas semanas após sua despedida, sua amiga Vivian Faker (não sei se soletrei corretamente) a convidou para tocar uma última vez, só para ela, então casualmente Edna tocou duas músicas sentada em uma cadeira ao lado do piano, enquanto Vivian a acompanhava no piano. Essas foram as duas últimas obras que Edna White tocou no trompete: Carnaval de Veneza e Intermezzo. (Este relato está disponível em áudio MP3 feito pela própria Edna para Susan Fleet).

Apesar da sua aposentadoria no trompete, ela continuou ativa como compositora e escritora. Em 1974 Edna compôs a “Suite para Trompete e Orquestra Solo”, em quatro movimentos. A estreia aconteceu em 9 de fevereiro de 1980, em Greenfield, MA, pelo trompetista Stephen Schaffner e pela Pioneer Valley Symphony, maestro Nathan Gottschalk. Em 1981, Edna contratou um trompetista francês para eternizar sua obra em um disco. Uma única apresentação do trompetista francês Gaetan Berton e da Orquestra de Teatro de Maryland então foi gravada. A gravação está disponível na fita cassete que acompanha o livro “On Taming the Devil’s Tongue”, assim como a partitura  completa do trompete solo.

Foto publicitária do seu recital no Carnegie Hall em 19 de fevereiro de 1949, que incluiu obras de J.S. Bach, Georges Enesco, o compositor canadense Gena Branscombe e a estreia de At the Beach, uma valsa de concerto composta para ela por Virgil Thomson. Conrad V. Bos acompanhou-a ao piano.

Década de 30 em suas apresentações em rádios e musicais.

The debutante, de Hebert Clarke. Edna gravou no estúdio da Edison Records em New York dia 15/12/1920.

Trompete: Edna White.

Ano de lançamento: 1921

Trompete solo e orquestra. Esse trecho inclui trechos do medley:

“Assembly Call,” “We’re Tenting To-Night,” e “Taps.”

Fonte original: http://www.library.ucsb.edu/OBJID/Cylinder6084

Música: Duna (trompete e voz).

Registro: 1921

Edna White gravando com o seu então marido Torcom Bezazian no estúdio da Edison Records em Nova Iorque. Edna e Torcom formaram um dueto onde gravaram e percorreram o circuito vaudeville por mais de uma década ~1918-1928.

Atenção para os instrumento da lateral direita. Ao que tudo indica, parece ser um sarrusophone.

Suite for Solo Trumpet and Symphony Orchestra (1979), composição de Edna White.

I: Adagio

II: Tempo à la tarantella

III: Tempo à la cantabile

IV: Allegro

Trompetista solista: Gaëtan Berton (Tours, France)

Maryland Symphony Orchestra, 1981

Entrevista dada Edna White sobre o dia da gravação do “The Debutante”, no estúdio da Edson Record’s em New York.

“Os músicos estavam sentados em tablados de diferentes alturas, e o maestro escolheu uma música folclórica americana para que ela e a orquestra pudessem tocar juntos para experimentar o balanço da orquestra e a solista. O maestro, muito exigente, mudava a disposição dos músicos diversas vezes, experimentando qual seria o melhor. Quando finalmente ele gostou da disposição dos músicos, já era 11h45 da manhã e então eles ensaiaram por inteiro a música “The Debutante”. Após o ensaio, o maestro liberou os músicos para o almoço. Edna estava tão brava que não conseguiu nem comer. Às 13h os músicos retornaram para o estúdio para gravar o The Debutante e, como é de exigência da Edison Records, deve-se gravar 3 vezes por inteiro e então eles escolhem um para o registro final. Porém, Edna já estava cansada de ter tocando infinitas vezes a música folclórica e ainda uma passagem completa da música a ser gravada. Então na primeira passagem Edna perdeu todas as notas agudas, o maestro meio que impaciente, disse que ela não deveria cometer nenhum erro na próxima passagem, então ela cometeu dois erros (risos da plateia). Na terceira passagem a Edna parou de tocar e se aproximou do maestro e disse que não iria mais tocar. O diálogo é esse:

Maestro: – Você está se recusando a tocar?

Edna: – Eu não estou me recusando a tocar, eu simplesmente não consigo mais tocar. Meus lábios estão cansados. Vamos continuar amanhã.

Maestro: – Você sabe o problema que está causando ao ter que me forçar a reagendar todos os músicos para amanhã e ainda pagar o dobro? Sem falar da agenda do estúdio?

Edna: – Eu sei, mas não consigo mais tocar hoje. Se amanhã você não tocar a música folclórica e gravar direto o The Debutante então gravarei amanhã.

E foi assim que o The Debutante foi gravado. Dizem que quando você gasta muito dinheiro você gosta mais.”

Fonte original: https://wfmu.org/playlists/shows/14803